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Finitude e Vida: duas faces de uma mesma moeda

Postado em 21 de Agosto de 2017

Falar em finitude parece sempre algo doloroso. E é! Porque não há fim sem dor, sem desamparo, sem sofrimento. Ao perder coisas pequenas e cotidianas já nos deparamos com a tristeza, imagina quando se trata de alguém. Quem nunca sofreu por finais simples como a do pote de sorvete num dia de 40 graus ou, o filme visto na sala de cinema tão esperado por meses, ou até anos? Não parece coerente comparar um fim assim corriqueiro com o fim de uma vida humana. E é realmente simplista esta comparação, embora ela faça parte da vida! E a vida é este amontoado de coisas pequenas, simples e maravilhosas.... isto daria um outro texto. Mas, voltemos ao que ao delicado tema da finitude. Pensando no sofrimento de coisas que podem voltar, fazer-se denovo, é de se imaginar o tamanho da dor de se perder alguém. Há dor em todos os finais, mas, quando um homem morre, fecham-se todas as suas possibilidades, há o encerramento. Não é mais possível se refazer qualquer coisa e ali o antagonismo do cotidianamente vivenciamos se apresenta.

Pensar na finitude humana é algo que nos angustia, pois, parece distante. Falar disso parece que 'atrai' a morte para mais perto. No entanto, somente ao pensar na morte pode se pensar na vida! O fim está presente em todos os movimentos da existência, como o fim de um dia para o início de outro, de uma idade que dura um ano, para que outra se inicie, ou a despedida de uma casa para que se habite em outra! A morte é em si uma possibilidade da vida! Assim como o é o sorvete tomado à sombra de uma árvore de praça numa tarde de verão. Assim como o é a mudança de emprego, a viagem a outro país, ou a cidade vizinha. Entre tantas coisas que pode acontecer na vida, pode-se, inclusive, morrer!

Por mais angustiante e desesperadora que esta ideia possa parecer, pode-se pensar numa ampliação da vida a partir desta percepção. Ao planejar uma viagem para a Itália para ver a Capela Sistina, por exemplo, e, se este fora o sonho de toda uma vida, estar lá por 7 dias, faria com tivéssemos a ideia clara do quão necessário seria aproveitar cada memória construída, cada emoção provocada pelo sabor do sonho em realização. Aproveitaríamos, de fato, cada segundo possível. Então, aquela viagem com começo, meio e fim faria com que a experiência fosse vivida ao máximo! Quando vamos a um restaurante muito fino e caro para comemorar uma ocasião especial, tomamos o cuidado de aproveitar cada segundo como um ritual; cuidamos dos detalhes como estar com uma roupa adequada, e cuidamos até dos nossos gestos e tom de voz para que nossa educação esteja à altura do ambiente. Depois escolhemos com calma e saboreamos a entrada, seguida do prato principal e a sobremesa, com mais calma ainda; tudo regado a uma dose de alegria, sorrisos e surpresas nos sabores degustados. Passar pela vida pode ser exatamente como esta experiência no restaurante eleito. Cada sabor que experimentamos, mesmo quando não agrada tanto nosso paladar, traz-nos a experiência da unicidade. E, sabendo ser a noite especial finita, cuidamos para que aproveitemos tudo, mesmo quando um tempero, ou um ingrediente não nos satisfaz tanto. Degustamos, saboreamos e nos colocamos como aproveitadores deste momento, que, justamente porque vai acabar precisa ser vivido com a potência máxima de sua possibilidade. Eis, pois, um esboço da vida e seu fim. Certo, sem dúvida. Porém, é ele que dá a dimensão do quanto cada prato, cada fase acaba e inicia outra, e ao final pode-se ter estado em algo que se tenha plenitude.

A finitude e a vida, são, pois, face da mesma moeda! Só se tem consciência da vida porque existe a morte. Portanto, ela pode ser uma grande professora, ensinando-nos, o quanto estar aqui, apesar de muitos dissabores, é uma experiência que invariavelmente acabará, e que justamente por isso, pode ser plena, em todos os sentidos enquanto durar!

Desejo vida a todos!